A tradição de homenagear os mortos é antiga, sua origem varia. Segundo Érica Quinaglia Silva, professora da Universidade de Brasília e doutora em Antropologia, Sociologia e Demografia, a forma de olhar a morte vem mudando ao longo dos séculos no Ocidente.
Ela lembra que na Idade Média, por exemplo, ”o cemitério era o centro da vida social. Até aproximadamente 1750, nele as pessoas iam passear, dançar, vender e comprar, lavar a roupa; nele se resolviam questões políticas da comunidade, se faziam reuniões e representações teatrais. A morte era pública e comunitária”, lembra a professora.
Érica Quinaglia lembra ainda que isso mudou com a revolução científica, que ocorreu entre os séculos XVI e XVIII, quando proliferou a angústia diante da morte. "A morte passou a ser considerada não um limite da vida, mas sim um limite da medicina", explica a professora da UnB
Católicos
A tradição de homenagear os mortos no chamado Dia de Finados foi instituída pela Igreja Católica Romana, que desde o século XIII, dedica o dia 2 de novembro para essa celebração. A explicação, seria porque no dia 1º de novembro é a festa de Todos os Santos, que celebra todos os que morreram em estado de graça e não foram canonizados. Já o Dia de Finados celebra os que morreram e não são lembrados na oração.
Segundo o professor Felipe Aquino, no blog católico da Canção Nova, muito antes da instituição oficial da data pela igreja católica, em muitos lugares os cristãos já celebravam os mortos no dia seguinte a festa de todos os santos.
Evangélicos
Outras religiões também cultuam os mortos, mas sem uma data específica. Mesmo os evangélicos, uma dissidência da religião católica, não celebram o Dia de Finados, embora muitos de seus seguidores também aproveitem a data para visitar o cemitério onde estão enterrados parentes e amigos. O pastor Edson Tammerik destaca que o dia 2 de novembro é apenas mais um dia qualquer e prefere destacar a importância da fé e da oração para superar a dor da saudade do ente querido.
Islã
Os islâmicos também não possuem uma data específica para cultuar os mortos. O sheik Nasser Aboujokh lembra que o Islã recomenda a visita aos mortos com uma forma de reflexão sobre o comportamento do fiel na sua relação com a vida e com o próximo e sobre a necessidade de manter distância do pecado. O sheik também pregou a necessidade do respeito pela fé e cultura de outros povos.
Afros
Para os adeptos de cultos africanos a morte é sinônimo de alegria e não de tristeza. O babalorixá Ivan Choa destaca que dentro das religiões trazidas pelos negros para o Brasil, um dos deuses é celebrado com festa exatamente por ser a representação da saúde e da morte. Para seus adeptos, a morte é apenas um ritual de passagem e existe a crença da reencarnação, ou seja, a volta a vida num outro corpo.
Budismo
Os budistas não veem a morte como fim. Segundo dirigente budista, Niéliton Gomes, a religião respeita a celebração do Dia de Finados, mas vai além da celebração de apenas um dia por ano. É que, nos seus templos as celebrações pelos mortos são feitas duas vezes por dia.
Luto
A professora da Universidade de Brasília, Érica Quinaglia Silva, lembra que a mudança em relação ao tratamento dado a morte também se refere ao processo de guardar o luto. Enquanto até parte do século passado era comum parentes guardarem um período de luto que chegava até um ano, no caso de algumas viúvas e filhos, isso hoje já é considerado pela medicina um processo patológico. "A vivência do luto, ela está relacionada a um processo histórico, como assinalado, de atribuição de negatividade à morte, de consideração da morte como tabu. Nesse ideário da morte, construído na sociedade ocidental, não se deve falar da morte nem pensar nos mortos, como demonstra, por exemplo, o DSM-V (manual de diagnóstico e estatístico feito pela Associação Americana de Psiquiatria para definir o diagnóstico de transtornos mentais), que patologiza o luto após duas semanas" acrescenta Érica Quinaglia.
Edição Tribuna de Parnaíba / Fonte: Fatoonline
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