Existe uma convenção profissional extraoficial, uma espécie de acordo entre cavalheiros, que determina: suicídios não serão noticiados pela grande imprensa. Ninguém sabe exatamente quando foi que este acordo foi selado, nem precisamente por que. O fato é que ele existe, mas aos poucos e discretamente tem sido descumprido: notícias sobre suicídios são publicadas, sim. Às vezes de modo sensacionalista, outras de modo superficial, e poucas de maneira aprofundada. Ainda assim, linhas editoriais e profissionais de imprensa sustentam que nas páginas de seus jornais não há espaço para suicídios. Por quê?
Talvez o suicídio seja colocado à margem da ação jornalística por ser um ato individual cujas motivações são bastante íntimas e particulares. No entanto, os índices de suicídio no mundo e no Brasil aumentam a cada ano. Esse aumento nos números de tentativas e mortes efetivas por suicídio o caracteriza como um tema de interesse social, como um fenômeno social. E é dos interesses e fenômenos da sociedade que a imprensa trata. O jornalismo, enquanto agente construtor do imaginário coletivo, reflete e suplanta pensamentos coletivos, ora promovendo a manutenção de tabus, ora sugerindo novas formas de conceber os acontecimentos do mundo.
O suicídio pode ser, portanto, entendido e investigado como um fenômeno social, uma ação individual que, se observada mais aprofundadamente, questiona e denuncia falhas na regulamentação moral exercida pelo coletivo. Da mesma forma que o jornalismo dá conta de cobrir noticiosamente outros temas tabus que figuram entre as manchetes dos jornais diários, como pedofilia ou incesto, contribuindo para a denúncia de práticas ilegais e para informar acerca de outras realidades, as notícias sobre suicídios poderiam obter o mesmo êxito, alcançando senão a finalidade do jornalismo, que é gerenciar a arena simbólica e proporcionar um compartilhamento de informações e experiências, promovendo debate e maior compreensão sobre temas sociais.
Ao abordar o suicídio em suas páginas diárias, a imprensa também poderia contribuir oferecendo informações e incentivando um debate sobre como auxiliar pessoas com tendências suicidas, como superar a perda de uma pessoa querida por suicídio, como relações familiares e escolares podem influenciar crianças e adolescentes a pensarem em suicídio em decorrência de uma pressão social vinda dessas instituições que eles não conseguem suportar e, por fim, e talvez principalmente, fomentar um debate sobre como a morte voluntária não é uma forma menos digna de morrer e assim contribuir para a desconstrução de um tabu e de preconceitos que povoam o imaginário coletivo e impedem que famílias e amigos de suicidas bem como suicidas potenciais consigam compreender melhor o significado e as consequências desse ato.
Mas há também outras explicações sugeridas por profissionais e pesquisadores do jornalismo para as ressalvas da imprensa em relação ao tema. O jornalista e professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Arthur Henrique Dapieve (2006) sugere que as razões para o silêncio da imprensa em relação ao tema são de ordem prática: pretendem amenizar a dor e a possível culpa de familiares e amigos do suicida, respeitar a privacidade e os motivos, geralmente alheios ao conhecimento das pessoas mais próximas ao suicida, e, por fim, não desafiar a crença e a convenção de que o suicídio é contagioso, ou seja, de que ao noticiar um suicídio a imprensa pode influenciar, involuntariamente, suicidas potenciais a cometerem o mesmo ato.
*Texto extraído do Observatório da Imprensa, disponível na íntegra em: http://www.observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_suicidio_na_pauta_jornalistica
Por princípios editoriais o Tribuna de Parnaíba.com, não publica suicídio como ato isolado, por respeito aos familiares e por acreditar que o suicídio seja uma atitude extrema de um indivíduo cujas motivações são bastante íntimas e particulares.
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Por Bruno Santana
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