Há seis meses, técnico assinou manifesto do Bom Senso FC exigindo renúncia de Marco Polo Del Nero. Hoje, é o plano A para a Seleção, e não há planos B ou C.
Quanto mais demorar a negociação entre Tite e CBF, melhor para Tite. O treinador que há dois anos ficou contrariado por não ter sido chamado para suceder Felipão hoje pode se dar ao luxo de fazer a confederação esperar.
O período compreendido entre julho de 2014 e junho de 2016 serviu para Tite consolidar suas qualidades aos olhos do público, enquanto a imagem da CBF se deteriorou na esteira de prisões, escândalos de corrupção e maus resultados.
Marco Polo Del Nero não vai admitir, mas sempre soube que errou ao chamar Dunga e Gilmar Rinaldi para tentar curar os 7 a 1. Tanto é assim que mandou sondar Tite mais de uma vez ao longo de 2015 e em abril de 2016.
Por vários motivos, Tite sempre disse "não": o projeto não era claro o bastante, a CBF ainda tinha um técnico, a mágoa por ter sido preterido em 2014 ainda estaria viva, havia campeonatos em andamento por um clube ao qual o técnico é muito grato. Tudo pesou.
Os resultados entregues por Dunga e Gilmar foram tão abaixo da expectativa que mantê-los ficou insustentável, sobretudo para uma entidade sob tantas pressões - o Departamento de Justiça dos EUA, o Comitê de Ética da Fifa, duas CPIs em Brasília, a Primeira Liga, não falta artilharia contra a CBF.
Pelo menos para os problemas de campo, o que realmente importa ao torcedor, o técnico do Corinthians é a solução perfeita. À diferença das abordagens anteriores, desta vez a CBF tratou de deixar livre o espaço que pretende ver ocupado por Tite.
Dunga e Gilmar foram demitidos após uma "reunião" de 10 minutos. Enquanto Del Nero aguardava a volta da dupla dos EUA para demiti-la, sinais eram trocados com Tite. O resumo dessa conversa prévia pode ser resumida em três palavras:
– Topa conversar?
– Sim.
Um jato foi enviado a São Paulo para buscar o corintiano. Tite se reuniu por três horas com a cúpula da confederação - o presidente Del Nero, o diretor-executivo Rogério Caboclo, o secretário-geral Walter Feldman.
Depois de quase três horas, Tite saiu sem falar, e a CBF precisou fazer grande esforço para dizer que a reunião foi "positiva". O técnico seguiu a regra básica de quem está em vantagem numa negociação: recusou a primeira oferta.
É evidente o desconforto da confederação com a situação: a menos de dois meses da Olimpíada e dois anos da Copa do Mundo - da qual hoje estaria fora - a seleção brasileira não tem técnico. E não há plano B. Nem C.
Seis meses atrás, logo após o indiciamento de Marco Polo Del Nero pelo FBI no Fifagate, Tite assinou um manifesto preparado pelo movimento Bom Senso FC que "exige a renúncia definitiva" do presidente da CBF e a convocação de novas eleições para a entidade.
Para o treinador, é mais fácil explicar a aparente contradição: ele nunca escondeu que tinha o sonho e a ambição de assumir a seleção brasileira, que representa a oportunidade de ser campeão do mundo.
O fato de a CBF fazer de tudo para seduzir alguém que subscreveu crítica tão contundente seria impensável noutros tempos, nem tão distantes assim.
Fonte: Globo Esporte / Edição: Tribuna de Parnaíba
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