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A humilhante aventura de madrugar num posto de saúde!!!

By Redação - sexta-feira, 13 de fevereiro de 2015 No Comments
Imagem: Blog do Pessoa


Por Fernando Gomes
Sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.

São 3h da manhã e a Dona Raimunda, uma brasileira de 64 anos de idade residente no bairro Planalto acorda para se dirigir ao Posto de Saúde da Comunidade São Sebastião, Módulo 11, na tentativa de marcar uma consulta médica. É preciso madrugar para conseguir uma ficha!

Prepara um rápido café e sai de casa apressada para chegar logo ao seu destino, enfrentando a areia das ruas do seu bairro até chegar à Unidade de Saúde leva quase quarenta minutos. 

Já é quase 4h da manhã, lá no Posto ela encontra outras amigas que fizeram a mesma jornada. Toda madrugada é assim, de segunda a sexta, a calçada abriga uma quantidade razoável de desvalidos da sorte. Lá eles fazem a própria regra, se organizam por ordem de chegada. Jogam conversa fora para passar o tempo e como todo brasileiro, ainda se divertem ao ir madrugar num posto desses. Uma humilhante aventura!

Isto não é enredo de filme é a realidade de milhares de famílias parnaibanas que não têm um atendimento médico como previsto na política de atenção básica do SUS.

Neste cenário surge também a figura do espertalhão. Aquele que chega mais cedo, marca o seu lugar e vende a “ficha”. Nada é institucionalizado, naturalmente. Se consultarem a Secretaria Municipal de Saúde certamente haverá repulsa aos fatos com a contundente negação de que isso não ocorre. 
Mas, segundo informações de servidores da área da saúde que não querem se identificar temendo represálias, tais fatos se repetem com frequência em outros postos e é do conhecimento da administração municipal. Na prática ninguém vê isso, ninguém diz nada. Pois nenhuma providência tem sido adotada.

Este posto dá para fazer um filme. Em 2012, a Prefeitura de Parnaíba recebeu recursos do Ministério da Saúde, pelo PAC 2, no valor de R$ 123.343,15 (cento e vinte e três mil trezentos e quarenta e três reais e quinze centavos) para a reforma do dito Posto de Saúde da Comunidade São Sebastião. Uma obra prevista para ser executada em 90 dias e que levou quase dois anos para ser concluída.

Valor questionável para uma simples reforma do tipo ali realizada, uma vez que casa mais ampla e recém-construída na mesma avenida foi negociada a um preço médio de R$ 120 mil, valor da época. Vê-se que a reforma saiu pelo preço aproximado de uma casa nova. Estrutura que daria para acomodar uma unidade de saúde com mais conforto e comodidade para os servidores e usuários.

No entanto, a reforma do prédio foi feita a um alto custo e de forma demorada, sem se importar com os cidadãos que ficaram um bom tempo sem o atendimento. A melhoria necessária, além da física, deve ocorrer no atendimento. Urge o investimento em políticas de humanização da saúde pública.

A solução está na boa aplicação dos recursos do Programa de Saúde da Família – PSF que se propõe a transformar o tradicional modelo sanitário brasileiro médico, medicamentoso, curativo e individual, que tem no hospital o lócus de solução para todo e qualquer problema de saúde, em um modelo de saúde coletivo, multiprofissional e centrado na família e na comunidade. Falta atenção básica ou primária.

A Atenção Primária à Saúde (APS) constitui o primeiro nível de contato com o sistema. No Brasil, o Programa Saúde da Família (PSF) e o Programa de Agentes Comunitários de Saúde (PACS) são estratégias de implementação e organização da APS. Deveríamos ter um serviço de saúde mais qualificado e mais humanizado, isso porque Parnaíba possui a Gestão Plena do SUS que quer dizer que além da gestão das ações de APS ficam a cargo do município as políticas de atendimento à média e alta complexidade (Assistência Hospitalar e Ambulatorial). Se a primária não atende, esta outra desanda...

A Secretaria Municipal de Saúde não deveria permitir que as “Donas Raimundas” tivessem que passar pelo constrangimento de madrugar num Posto de Saúde correndo muitas vezes o risco de não conseguir uma consulta ou até mesmo de ela ser marcada e no dia o médico simplesmente faltar.

Como deveria funcionar? O manual SUS explica: para marcar consultas o paciente deve procurar o Posto de Saúde mais próximo de seu bairro no horário normal de atendimento. A consulta é agendada na hora e o paciente informado sobre o dia e horário que deve retornar ao posto para ser consultado. Todos os dias devem existir vagas reservadas exclusivamente para as emergências dos pacientes que não tenham agendado consulta. Além disso, a equipe de enfermagem deve estar pronta para avaliar os casos que precisam de atendimento hospitalar e encaminhá-los ao Pronto Socorro Municipal. Quando a consulta for com um especialista (cardiologista, ortopedista, etc), o paciente deve ser consultado, primeiramente, pelo clínico geral do posto de saúde para que o médico faça o encaminhamento. Depois disso, no próprio posto de saúde o paciente deve se dirigir ao balcão de atendimento com a guia de encaminhamento e agendar uma nova consulta, desta vez, com o especialista.

Será tão difícil implantar esse sistema respeitoso e necessário ao cidadão?!

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