Por: Fernando Gomes, sociólogo, eleitor, cidadão e contribuinte parnaibano.
Inicio esta provocação com outra: qual é a proposta político-administrativa em curso na Parnaíba? Que rumo a cidade está sendo obrigada a seguir? Sem participação decisória da maioria, no campo político temos um sistema apodrecido e na esfera administrativa uma falsa impressão de “gestão moderna”.
Para o primeiro desastre, o sistema político que vigora na cidade precisa ser demolido e pouco haverá de ser aproveitado dessa estrutura carcomida. A forma de governo atual é perigosa. Faz o jogo da politicagem. No entanto, sem rumo, reproduz o modelo da corrupção eleitoral no seu mais remoto estilo, compra de apoio político, embora com a sofisticação que o mundo moderno impõe. Nem mesmo o gestor tem a segurança de mantença no poder, pela fragilidade e falsa sensação de apoio que recebe. Perigo maior recai sobre a sociedade que se vê aviltada e enganada com a astuta estratégia de se apresentar como nobre, correta e inovadora. Esta gestão abre a perspectiva para o retorno de velhos abutres da política.
Tal modo não estimula a participação política, nem permite o surgimento de novas lideranças. O que se deseja e às vezes se escuta cidade a fora é que “falta uma pessoa de credibilidade para governar Parnaíba”. Porém, contraditoriamente, esta mesma sociedade que reclama e carece de um gestor pró-ativo e íntegro, se prende às amarras do poder estabelecido colonialmente, ou seja, esse “cara” precisa ter “dinheiro” para enfrentar o sistema político da forma como ele está estruturado, melhor dizendo, corrompido. Será que a cidade não tem um nome de uma pessoa de bem, com capacidade técnica, moral e ética para governá-la? Creio que sim e não são poucos. Homens e mulheres com esse perfil estão por aí, mas desencorajados e impotentes de se arriscar a uma “aventura” nobre, porém desgastante.
Uma lástima: qualidades e talentos não são levados em conta na escolha do gestor. A ação individual que se incorpora ao consciente coletivo reflete o que move e impulsiona a politicagem estabelecida. Por isso, antes de ter esse nome, é preciso desativar o modelo de se fazer política nesta cidade.
Acaso as pessoas de bem desta terra não tomem para si a responsabilidade de assumirem, ao menos o espaço de discussão política, para redesenharem qual o rumo que se quer para a sociedade no presente e no futuro, vamos sucumbir!
O jeito petista parnaibano de governar tem cartilha própria! Não há estímulo aos movimentos sociais, nem à política estudantil, nada de democratização da comunicação, sem políticas públicas de qualidade, tampouco se ver esforços na direção da participação e do controle social, sendo estes elementos que compõem a base sólida de uma sociedade que se deseja mais justa, igualitária e fraterna.
O outro desastre e não menos destruidor é o faz de conta de governar que se imprimiu nas últimas décadas promovido pela elite política representada por poucas famílias que se alternaram no poder em Parnaíba e responsável, em última instância, pela pobreza e violência que se pulveriza aos quatro cantos desta bela cidade. A gestão atual é produto dessa gente.
Lógico que, pelas circunstâncias em que chegou ao poder não poderia se esperar muito dela, mas ao menos que fosse capaz e justa ao ponto de promover ou criar as condições para dar curso a uma transição para um sistema político mais saudável. A história vai julgar essa administração por estragar a oportunidade ímpar que teve de trabalhar em favor da cidade!
A ausência do poder público não é revelada nos discursos oficiais, no entanto é facilmente percebida no cotidiano: escola de pouca qualidade, saúde sem um plano exequível de atendimento da atenção básica, falta de ordenamento territorial, inexistência de creche, tampouco há a promoção de atividades que estimulem a juventude a pensar (cultura) e a se divertir (lazer). São inúmeras as comunidades “invisíveis”.
Seria de bom alvitre efetivar o discurso da humildade sobre a capacidade de governar com os olhos na realidade, em correspondência com as tendências e os movimentos da vida social, com as "imposições" da época. Em segundo lugar, ter a capacidade de governar com o propósito de eliminar a pobreza e desarmar a vasta rede de desigualdades e injustiças sociais que desencantam e fragilizam as pessoas.
Por fim, recomendo o livro ou o filme “A Revolução dos Bichos” de George Orwell, mesmo autor de “1984”, uma obra de extrema importância para entendermos o funcionamento de sociedades comandadas por diferentes tipos de governo, além de mostrar de forma genial a ambição do ser humano, o “sonho do poder”. É uma verdadeira obra-prima de ambiguidade e precisão impressionantes! Nos mostra as faces da política, como o poder age sobre o povo, as muitas vezes em que as propostas e palavras ditas são distorcidas um tempo depois, mudando as opiniões e conceitos; a ilusão das propostas, a injustiça, a ditadura, o fato de o domínio absoluto subir à cabeça, fazendo o portador do mesmo se tornar exatamente uma coisa que antes se dizia totalmente contra, como o mais "inteligente" domina facilmente o ignorante, a desvalorização de quem muito trabalha, e mais uma infinidade de deficiências que são vividas nos dias de hoje, acentuando ainda mais a eficiência desse livro em se manter sempre atual. É bom ler ou assistir!
Edição Tribuna de Parnaíba
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